A sociedade de consumo, sobretudo a comunidade dos quadrinhos, mudou bastante nos últimos anos, e aqui, não qualifico se foi pra melhor ou pra pior. Mas mudou.
O “Pipocaenanquinismo” é algo estabelecido na esfera dos quadrinhos, que se acostumou a consumir mais do que simplesmente a leitura. Hoje é preciso que o objeto seja um “Petardo”, algo excepcional, mas bastante quase sempre acompanhada de uma descrição bastante subjetiva.
Você precisa ler isso!
Se você não tiver esse quadrinho na sua coleção, você nunca será um leitor “completo”…
Canais de comunicação de editoras como Pipoca & Nanquim e Comix Zone, se destacam, por trazer tais abordagens. São técnicas de marketing, funcionam, e por isso, continuam sendo feitas.
Não há crítica quanto a isso, a sensação de escassez sempre foi explorada pelas marcas, bem como, sempre é bacana quando a marca conversa com o consumidor, parece até existir uma relação sendo construída, você se sente próximo daquela pessoa na frente da câmera e se sente parte de um projeto. Isso tudo funciona e alguns atores do mercado dos quadrinhos fazem isso muito bem.
Antes de me perder, vou voltar a falar do que me propus, que são os “PETARDOS”, uma pequena palavra que guarda uma série de significados um tanto subjetivos. "PETARDO" para os quadrinhos seria aquilo que é BOM por essência, que “não tem erro”, se você comprar, com certeza você vai ADORAR, normalmente esse termo também tem um entendimento tácito daquilo que marcou, ou vai marcar uma época.
Aí temos um problema, tal adoração por agentes do mercado, por consequência produz críticas fugazes, rasas, apaixonadas, que por consequência, acabam por dar novos significados a outras palavras, como por exemplo, na confusão entre aquilo que é um “PETARDO” e aquilo que é “CLÁSSICO”.
Um agente do mercado não tem (ou pelo menos não deveria ter) autoridade pra definir o que é clássico, e muita vezes estes agentes nem precisam se dar o trabalho. Quem faz essa confusão também é o leitor.
Vamos para alguns exemplos práticos. Alberto Breccia é um artista que influenciou diversos nomes gigantes dos quadrinhos, como por exemplo, Frank Miller, da mesma forma Wallace Wood, Harvey Kurtzman, Alex Tooth, Kirby, Toppi, Jordi Bernet e tantos outros. Obras desses caras possibilitaram a origem de novas obras, bem como, alteraram o ponto de vista do público e da crítica a respeito da concepção e da produção de histórias em quadrinhos. Não importa se suas obras são “BOAS” ou não, o que importa é que muito do que estamos lendo em 2023, é reflexo do que esses autores fizeram há décadas atrás.
Na outra mão dessa pista temos aquilo que é chamado de “Novo Clássico” (só pra não chamar novamente de PETARDO) e não confunda com o NEOCLASSICISMO (isso demandaria um novo post), aqui não falo sobre nenhum gênero, somente sobre obras que o tempo, a crítica, o público e a própria produção artística considera como influente.
O “Novo Clássico” que me refiro é basicamente uma obra BOA (sabe-se lá a partir de quais critérios) que alguém disse que se tornará um “CLÁSSICO” no futuro, ou até mesmo uma obra antiga que pela vontade de um ou outro agente do mercado define determinada obra de tal forma.
Veja, como leitor, ao tocar numa obra que carrega o peso e o potencial de se transformar em algo que mudará a história dos quadrinhos, posso perder aquilo que a obra se propõe, que na esmagadora maioria das vezes, é simplesmente contar uma história. Ou seja, pra que o leitor leia, aproveite, feche e comece outra.
O mercado é responsável por isso e a produção de conteúdo sobre quadrinhos também. Ao vender a impressão de que uma obra é essencial e obrigatória para que você a compre e só assim possa continuar a se considerar um leitor.
O ponto que eu pretendo chegar é bastante simples!
Aproveite a leitura que você tem em mãos, encare essa HQ que você está lendo agora como algo que vai passar, algo que você vai aproveitar, mas vai esquecer em breve. Nem toda expressão artística ficará na sua mente pra sempre. Ou você lembra de todos os filmes que assistiu, ou todos os livros que já leu?
Penso que bons quadrinhos são lançados a todo tempo e cada um deles pode oferecer uma boa experiência. Não se prenda ao que uma editora prega, ou ao que um influenciador oferece.
Leia conforme sua disponibilidade, e principalmente, de acordo com seu bolso.
Quadrinhos não são baratos, como já foram um dia. HQs também não pretendem mudar a sua vida, embora de vez em quando isso aconteça. A maioria delas talvez tenham mudado somente a vida de quem ganhou($$) algo com isso.
Uma leitura boa é aquela que te faz feliz, aquela que diverte. Nem tudo é clássico, até porque se assim fosse, nada mais seria.